Ao aproximar do Natal
Antevéspera
de Natal. Embora a tarde estivesse ensolarada preferi deitar-me no sofá da sala
e colocar alguma música para relaxar. O disco era uma seleção de árias de ópera
italiana, interpretadas por Maria Callas. De início começou a tocar Vissi
d’Arte de que tanto gosto. Fui envolvido por uma atmosfera emotiva que ao mesmo
tempo me embriagava, me aliviava das tensões do dia. Aquela Tosca realmente era
diferente de muitas das que eu havia escutado até então, e mexeu em algo dentro
de mim que nunca sentira com outra Floria.
Passado
o momento de êxtase, levantei-me, fui até a cozinha procurar algo para beber,
pois estava sedento. Na geladeira, ainda encontrei o suco de abacaxi que eu
mesmo havia preparado no almoço daquele sábado quente. Voltei à sala, troquei o
disco e coloquei outro, da Piaf, que ganhara de minha professora de piano. Fui
até a varanda refrescar-me, embora pouco ventasse lá fora. O abafamento daquele
dia de verão persistia.
O
telefone tocou. Minha tia chamando-me para jantar com eles. Agradeci ao
convite, mas disse que preferia ficar em casa naquela noite, descansando um
pouco e refazendo uns textos que começara no dia anterior. Fui tomar outro
banho. Que alívio!
Após
alguns minutos, a chuva. Finalmente! Chovia torrencialmente. Ainda pude sentir
o cheiro da terra molhada e ver os passarinhos contentes, sacudindo as penas,
refrescando-se. Desliguei a música que tocava. Por alguns minutos, fiquei
sentado na poltrona da sala admirando a água que escorria pela vidraça.
Contemplando e ouvindo a chuva que caía...
Um
sol, tímido, ainda saiu. E mais uma bela obra da Natureza para findar aquela
tarde de verão: um arco-íris. A criança dentro de mim despertou; fiquei curioso
de segui-lo até o seu final e lá encontrar o pote de ouro.
Voltei à realidade. Sentei-me ao computador.
Coloquei novamente o disco de Piaf, que tocava baixinho, enquanto refazia um de
meus textos. Aliás, o único que consegui refazer até naquele momento, pois o
cansaço falou mais forte e resolvi deitar-me um pouco, e acabei adormecendo
profundamente, acordando somente no outro dia.
Véspera
de Natal. Despertei com a rua movimentada. Crianças na expectativa. Uma menina
de seus cinco anos ia de mãos dadas com os pais a perguntar quando o velhinho de
longas barbas brancas viria trazer seus presentes. Duas mulheres de meia idade
caminhavam em direção ao mercado, comentando entre si o que pensavam em comprar
para os comes e bebes da noite natalina. Todos eufóricos. Eufóricos com os
presentes, com as compras para a ceia... Nem todos... O Natal seria o mesmo em
todos os lares? Passei o dia a refletir sobre essa data...