terça-feira, 3 de setembro de 2013


Rio de Janeiro: uma viagem ao passado 



Minha alma canta                                   
            Vejo o Rio de Janeiro                             
Estou morrendo de saudades                  
Tom Jobim  



           Final de semana no Rio. Parece bem curto, principalmente para aqueles que estão à passeio e amam a tão aclamada Cidade Maravilhosa. Um momento de contato com a nossa   história política, social e cultural. Contato com a beleza fluminense mais desejada e revisitada.
           Passear pela 'cidade dos encantos mil' torna-se um momento nostálgico, mesmo para aqueles que não tenham vivido, contudo, têm na imaginação e no sonho a paisagem local. 
           Caminhando por Santa Teresa, voltei em tempos que não presenciei, naqueles que li e releio nos livros de memórias da cidade, no que aprendi nas aulas de História. Uma lembrança viva, embora passada. O Largo do Machado, a Confeitaria Colombo, a Rua do Ouvidor, os arcos da Lapa... locais frequentados por grandes nomes de nossa literatura, de nossa música. Nomes que que ficaram vivos e eternizados a cada rua, a cada esquina. Rio exaltado nas melodias e letras jobinianas da bossa-nova, inspiração de poetas e músicos apaixonados. Pão-de-Açúcar, Corcovado.
           Ônibus partindo. Aperto no peito, vontade de ficar. Um adeus que é um até logo. Um querer aproveitar os últimos minutos em terras cariocas, antes de seguir viagem. Levo comigo a lembrança do inesquecível final de semana, já planejando o retorno e, na estrada, lugares e momentos são revividos, através das imagens fotográficas da abençoada máquina digital.
    

    




domingo, 7 de julho de 2013

O Despertar


                                                     Quem me dera voltar à inocência
                                                     Das coisas brutas, sãs, inanimadas...        
 
                                                                                      Florbela Espanca  

 Em determinados dias nos bate uma certa nostalgia; vontade de voltar no tempo, de reviver momentos. Bastam algumas imagens, cheiros, músicas... para que nos remetamos à nossa juventude, à nossa infância. Saudades daquelas horas de risos e brincadeiras... 
          É um momento mágico poder ser trasportado pela memória àqueles dias de inocência e sonhos... tudo passando como um filme. Sentir o cheiro de mato, da terra, das marcas deixadas pelos animais que por ali passam, sejam montados, sejam guiados em uma charrete ou carroça. Lembranças... doces lembranças aquelas de meu tempo de menino do interior. 
           Hoje, o menino acordou, nessa manhã de inverno, olhou o sol que começava a despertar preguiçoso, e saiu a caminhar pela estrada, sem destino, o frio da manhã batendo em sua face que começava a se aquecer com a morna luz solar. Cada parada para contemplar aquela paisagem, era uma longa viagem nos anos.
As horas passavam velozes e meus dedos queriam pegá-las, retê-las no tempo presente, apreender aquele instante para sempre e trazê-lo junto a mim, quando voltasse para casa. Porém, o que ficou foi somente a lembrança do vivido outrora; corpo e alma saciados, o prazer de pisar com os pés descalços na terra úmida ainda do sereno da noite e a vida explodindo em cores, sons e cheiros...

Música Renascentista



Um clima evoluído do espírito renascentista

Um breve estudo sobre Arianna, obra de Benedetto Marcello

        Composta para cinco vozes a ópera Arianna, do compositor italiano Benedetto Marcello, se revela surpreendente ao parecer ostentar um clima evoluído do espírito renascentista, escrita para um soprano, um contralto, um tenor e dois baixos. O libreto é do italiano Vincenzo Cassani. A obra teve sua estreia em 1726, tendo como personagens: Arianna (soprano), Fedra (contralto), Teseo (tenor), Bacco (baixo) e Sileno (baixo).

        Comum às orquestras barrocas, o órgão e o cravo executam a parte do baixo contínuo. E nesta peça italiana, o órgão acompanha as árias e os recitativos de Bacco e Sileno. O primeiro registro desse instrumento surge na terceira cena, durante o recitativo de Bacco (“A Terra, A Terra”). Em seguida, em um clima festivo, emana um coro (“Ebbre bessaridi” - sátiros e faunos). No entanto, o que me desperta a atenção é a peça sinfônica que abre a ópera, sequenciada nos movimentos: presto, largo e presto. Os violinos parecem duelar entre si, enquanto os naipes dos sopros iniciam, em um segundo tempo, um diálogo com esse duelo de semicolcheias e fusas.

        Benedetto Marcello nasceu em Veneza, em 31 de julho de 1686. Além de compositor, exercia outras atividades como, escritor e advogado. Entre seu legado estão cantatas, madrigais, oratórios e sonatas. Faleceu na cidade de Bréscia (Itália), em 24 de julho de 1739. Wellerson Cassimiro.

domingo, 5 de maio de 2013

           

                                                   VIOLONCELO  

A Violoncelista - Joseph de Camp

Chorai arcadas
Do violoncelo,
Convulsionadas,

Pontes aladas
De pesadelo... 

    De que esvoaçam,
     Brancos, os arcos...
   Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio os barcos.

Fundas, soluçam
  Caudais de choro...
    Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...

Trémulos astros...
   Soidões lacustres...
   - Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!

Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
- Chorai, arcadas, 

Despedaçadas,
Do violoncelo.



                                                                                    Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'


Carmina Burana


        Considerada uma das obras-mestres do século XX, a Cantata Carmina Burana, do alemão Carl Orff, em seu primeiro movimento, faz uma alusão ao sistema sócio-econômico mundial. O capitalismo que esconde a sua dupla face. Ora, como sacro e bençoado. Ora, como um monstro usurpador de bens. Ele dá e tira. Emerge na forma de uma roda volúvel que, está em eterno movimento.

        Escrita por monges e eruditos errantes, a Carmina Burana é uma coleção de 200 poemas encontrados em um pergaminho, no ano de 1803, na biblioteca de um antigo mosteiro, na Baviera Superior, sendo simbolizada por um elemento da antiguidade: a roda da Fortuna. Os poemas relatam as bênçãos e as maldições provindas da Fortuna; a imperatriz do mundo. Nos primeiros versos, os monges escrevem: “Ó Fortuna és como a Lua mutável, sempre aumentas e diminuis; a detestável vida, ora escurece e ora clareia por brincadeira a mente; miséria, poder, ela os funde como gelo”. Ainda em tempos remotos, estes eruditos pareciam revelar a futura estrutura econômica das sociedades ocidentais do terceiro milênio.

           Em nossos dias, o dinheiro é líquido e instável. Ora, se ganha. Ora, se perde. Por vezes, parece abstrato e invisível. Ao mesmo tempo, que equilibra, se torna irregular. Aqueles que, hoje, exaltam sua felicidade sobre seus bens capitais, amanhã podem chorar ao ver sua virtude econômica esmorecer, atingida por uma forte mudança no mercado financeiro. O capitalismo se mostra como um grande carrasco, escravizando até mesmo os mais fortes.

               Nos momentos de bem-aventuranças, a prosperidade reina absoluta. Sorte e virtudes estão sobre a sociedade que, se senta no trono da Fortuna. E, muitos investimentos são feitos, negócios empresariais são fechados e contratos são assinados. O consumo exacerbado é inevitável. Compram-se grandes casas, os carros populares dão lugar aos luxuosos automóveis importados e se testemunha uma corrida veloz aos templos do consumo. Adquire-se um pouco de tudo. Até mesmo, algo que será de irrelevância utilidade. Os produtos importados multiplicam-se nas prateleiras exterminando os produtos nacionais e, as viagens ao exterior tornam-se rotineiras.

         Contudo, a roda da Fortuna está em movimento. E gira, impiedosamente. Despreparada, a sociedade desce desolada, chorando as chagas deixadas pela Fortuna. Os empréstimos e as dívidas se alastram no meio do empresariado. A fantasia dos longos prazos e crediários ilude os mais fracos. Em casos extremos, as pesadas portas das empresas são fechadas. Outrora, o trabalho é açoitado, restando ao homem um último sopro de vida do seu seguro desemprego. O consumo excessivo sai de cena e a palavra de ordem é economizar, preocupando-se em comprar somente o básico. Os números registrados pelas modernas máquinas do caixa parecem saltar aos olhos do mais simples ser humano. E, assim, a cruel roda do capitalismo, da Fortuna, da Imperatriz do mundo; continua girando, sem interromper o seu movimento, o seu ciclo vicioso e extasiante, proporcionando sorte e azar. Wellerson Cassimiro